O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominávelProvérbios 28.9
A história nos mostra que não é de hoje, nem de minha geração, que se enfatiza a necessidade de oração.
Fui ensinado, desde criança pequena, a não dormir, não me levantar e nem comer, sem orar. Mais tarde conheci quem não começa o mês sem uma semana de oração ou o ano sem uma reunião especial agradecendo a Deus pelo que passou e pedindo um bom ano novo.
Não estou dizendo que orar seja errado. De modo algum. As Sagradas Escrituras estão cheias de exemplos de homens de oração, a começar com o próprio Senhor Jesus. Vão mais longe: são claras em ordenar o quase incompreensível: “Orai sem cessar” (1Ts 5.17). Entretanto uma oração pode ser abominável como o texto acima nos garante.
O Senhor Jesus também condena as orações repetitivas: “E orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos” (Mt.6.7).
Porém, além de não ser ouvida, como as orações cheias de repetições tolas, o texto fala de uma oração, que aos olhos de Deus é abominável, e deixa claro que ela tem essa qualidade em função de ser feita por quem não considera a Lei de Deus.
O original se refere à Torah - o que nós protestantes chamamos de Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) - porém, à luz do Evangelho, entendemos como uma referência direta à totalidade das Sagradas Escrituras: consequência daqueles cinco benditos livros.
Mas, deve ficar claro que “tapar os ouvidos à Lei” não significa apenas gesto físico. Aqui temos uma figura de linguagem em que a coisa material é tomada por sua função.
O texto está dizendo que a pessoa que não orienta seu viver pelos ensinos da Escritura, ao orar, está cometendo uma abominação diante de Deus. Isso fica óbvio quando se pensa em alguns aspectos. Por exemplo:
1. Pedidos que contrariam os desígnios de Deus. Na maioria das vezes não conhecemos a vontade de Deus a respeito de nossa própria vida - o Apóstolo Paulo pediu que lhe fosse tirado o “espinho da carne” e ouviu “minha graça te basta” - mas sabemos a vontade geral. Deus não deseja que quebremos seus mandamentos. Portanto pedir sua bênção sobre uma união desonesta, ou sobre um negócio ilícito, por exemplo, é abominação.
2. Orar com outra intenção que não seja falar com Deus. Há quem ore para ser visto pelos outros ou para predispor-se a alguma ação.
No primeiro caso, nosso Senhor Jesus condenou tal prática com tanta veemência que parece que era corriqueira em seus dias. Por sua descrição no Sermão do Monte, parece que alguns ficavam em pontos estratégicos para serem vistos orando.
Já conheci quem aproveitasse a oração para elogiar a si próprio ou fazer um verdadeiro sermão com exortação.
Há como documentar algo semelhante: No livro Este Mundo Tenebroso (não é uma recomendação de leitura. Pelo contrário: se não leu, não leia) há uma oração de uma velhinha, muito marcante no enredo, que se dirige a Deus cândida e fervorosamente, mas logo começa a repreender a Satanás. Quando li, fiquei pensando com quem ela estava realmente falando.
No segundo caso, há quem ore para si mesmo. É o que ensinam muitos pregadores do evangelho da prosperidade. Dizem: Repita o que você quer. Exija com detalhes e você conseguirá ver seu desejo realizado. Isso sequer pode ser chamado oração.
Nossa oração deve ser feita com a simplicidade e confiança de uma criança que pede algo a seu pai. Não um moleque traquinas e mimado, mas uma criança amável e amada. Do contrário Deus a terá por abominável.
Originalmente postado no blog do Pastor Folton Nogueira
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