sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

EM TUDO DAI GRAÇAS


Quando criança, na faixa entre sete e dez anos de idade, eu gostava de observar o trabalho das pessoas que prestavam serviço para o meu pai, que possuía uma área de terra pequena. Não passava de cinco alqueires. Mas era bem cuidada e produtiva. Ali eram cultivadas lavouras diversas. Havia um pomar variadíssimo onde minha mãe gastou boa parte da saúde para livrá-lo das pragas e mantê-lo vivo e frutífero, além da criação de gado bovino, suíno e algumas aves. Essas múltiplas atividades levavam o meu pai à necessidade de contratar profissionais diversos. E, entre eles, havia um carpinteiro de cinquenta e poucos anos que se chamava Pedro, cujos hábitos eram diferenciados dos demais. Por ser muito educado, sempre ao pronunciar uma palavra, dentro de um contexto, mais tosca, ou que ele julgasse grosseira, usava antes a expressão: “Com licença da palavra...”. Mas não era essa pra mim sua característica mais marcante. Estranho mesmo, até esquisito na minha cabeça de garoto, era que, em tudo que acontecia com ele, fosse bom ou ruim, dizia sempre: “Graças a Deus!”. Eu e meus irmãos achávamos muito engraçado quando seu Pedro sofria pequenos acidentes de trabalho, mesmo sentindo dor, logo se expressava: “Graças a Deus!”. Na verdade, a gente falava que ele era meio doido. Mas, ele não ligava pra isso e todos o considerávamos um amigão.
Certo dia, seu Pedro estava preparando uma estrutura para o telhado do curral e, ao subir numa escada móvel de madeira, quando estava quase no topo da mesma, o degrau quebrou-se, fazendo com que o nosso amigo se estatelasse no chão. A queda foi feia. Eu e meu irmão começamos a rir, mas depois nos assustamos, porque ele gritava de dor, e, ao mesmo tempo, dizia: ‘parece que eu quebrei o dedo, graças a Deus!’
Naquele momento eu falei com o meu irmão: “Agora, seu Pedro está ficando caduco, mesmo! Ele tá achando que quebrou o dedo, e falando graças a Deus!”. Então, fui correndo falar com os meus pais, e todos vieram, inclusive os demais trabalhadores. E continuava o homem gemendo de dor, e dizendo: “Graças a Deus... Graças a Deus!” Aquilo acabou provocando uma gargalhada geral.
Eu tomei a iniciativa de perguntar a ele: - “Seu Pedro, se tá doendo tanto e parece que o senhor quebrou o dedo, por que o senhor tá agradecendo a Deus?”
A resposta dele foi interessante! Creio que foi também uma grande lição para os demais que estavam ali:
“Meu filho, eu levei uma baita queda. Tomei um susto danado. E agora eu tô vendo que até o dedo que tava doendo muito, já aliviou, mas, mesmo que eu tivesse quebrado o dedo, pelo tamanho do tombo, eu podia ter quebrado um braço, uma perna, ou até o pescoço, e ir mais cedo pra cidade dos pé junto. Pro causa disso é que eu tô agradecendo a Nosso Sinhô. E se tivesse acontecido cosa pió, também era proque nosso Deus Jesus Cristo quis assim’. Quando falou o nome de Deus, tirou e pôs de imediato o chapéu. Ele tinha o costume de fazer isso.
Alguns anos depois, eu aprendo com o apóstolo Paulo, instrumento de Deus, em I Tessalonicenses 5:18: “Em tudo daí graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”. Quando conheci, e sempre que leio essa preciosidade bíblica, a história de seu Pedro me vem à memória. Aquele rude homem sempre buscava uma maneira de creditar a Deus os riscos iminentes não consumados. E, verdadeiramente, Deus cuida de seus filhos dessa forma. Quando algo não vai bem à nossa vida, com certeza, se não fosse a interferência Divina, o mal seria maior. Às vezes passamos por provas, mas, se vivemos em fidelidade com o Senhor, Ele é Fiel e Justo para nos trazer alento. Agradecer a Deus, num momento de dor parece mesmo loucura, mas se focarmos essa gratidão no fato da certeza de que o Senhor está sempre presente, ao lado daqueles que o servem com temor e gratidão, o livramento acontece.

Altamiro Leal

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